A vinha alentejana desdobra-se por planícies e serras, numa área que se estende por cerca de 22 000 hectares na paisagem mediterrânica ocidental. No final do século passado, graças aos esforços conjuntos e locais dos viticultores – responsáveis pela plantação e cultivo da vinha – e dos vinicultores – responsáveis pela produção do vinho – a região passou a fazer parte do mapa da produção vinícola nacional. Os vinhos do Alentejo ampliaram o leque de notas e fragrâncias oferecido pelos tradicionais vinhos nortenhos portugueses, surpreendendo pela sua qualidade que rapidamente foi reconhecida nacional e internacionalmente.
Apesar do seu reduzido tamanho, Portugal é palco para uma enorme geodiversidade. É, por isso mesmo, um dos países que oferece ao mundo um maior número de castas indígenas – as variedades de vinhas que apenas existem no nosso território.
Algumas dessas castas são autóctones da região alentejana e imprimem a sua especificidade em três grandes regiões vinícolas nacionais: uma no norte alentejano, nas escarpas das serras de São Mamede e nas geografias de Portalegre-Marvão, outra ao centro, no Alentejo de transição das regiões de Borba-Estremoz, e outra mais a sul, nas planícies quentes e secas da Vidigueira-Cuba.
O sabor dos vinhos do Alentejo é, por esta razão, diversificado. Além disso, está impregnado na geografia, na alma e na história das gentes que todos os dias o cultivam, cuidam e divulgam, em Portugal e no mundo.
Vinhos do Alentejo: as regiões demarcadas e as castas famosas
O enoturismo alentejano teve um desenvolvimento surpreendente nas últimas décadas e tem levado muitos produtores da região a abrir as suas portas e a oferecer experiências de degustação dos seus vinhos e da cultura da sua região. A Rota dos Vinhos Alentejanos garante não só visitas às diferentes adegas da região, incluindo provas aos vinhos locais mais prestigiados, mas também safaris no montado, piqueniques para degustar a gastronomia local ou viagens de balão que proporcionam uma verdadeira experiência imersiva não só aos vinhos do Alentejo, mas também à paisagem que o produz, à terra que enraíza as suas videiras, às suas gentes, tradições e história.
Se a qualidade do vinho depende da qualidade da vinha, a qualidade da vinha depende do lugar e das gentes que a cultivam. O terroir alentejano, nome dado ao conjunto de fatores que influenciam a produção do vinho, é único no mundo, revelando-se um verdadeiro património nacional que é necessário preservar.
As castas alentejanas
As castas alentejanas apresentam vinhas com folhagem e cachos diferenciados em tamanhos, formas e sabores, que dão origem a vinhos com paladares singulares, difíceis de encontrar em qualquer outro local, e de carácter tão distinto cuja produção é claramente vocacionada para o mercado gourmet.
São vinhos que retiram o melhor dos solos pardos mediterrânicos, de textura franca e granulosa, e que deram origem a oito regiões da chamada Denominação de Origem Alentejana. É nestas regiões onde se concentra grande parte da sua produção: Portalegre, Borba, Reguengos, Redondo, Évora, Moura Vidigueira e Granja-Amareleja.
As castas cultivadas nestas regiões adotam a alma do lugar e das suas gentes. Perfeitamente adaptadas à geografia e às condicionantes meteorológicas de cada localização, produzem vinhos que refletem as técnicas e especificidades próprias da cultura regional em que se inserem.
O potencial e a riqueza das Vinhas Velhas do Alentejo
Os vinhos do Alentejo são a prova viva da diversidade de uma região onde é possível ser surpreendido por diferentes sabores, paisagens e víveres que numa só geografia permitem experienciar todas as diferentes almas alentejanas que convivem em harmonia a sul do Tejo.
A existência de Vinhas Velhas em algumas destas regiões é um dos fatores que contribui para tamanha diversidade, já que o vinho proveniente deste tipo de vinhas apresenta uma identidade bem vincada, capaz de espelhar a história do terroir em que foi produzido.
Uma vinha é considerada Velha quando as parreiras que a constituem têm 25 ou mais anos de existência. No entanto, é o meio século de idade que, para muitos enólogos, define o momento ótimo para as Vinhas Velhas produzirem os seus vinhos mais singulares e especiais. Uma das razões para esta singularidade é o facto de, aos 50 anos, a vinha produzir menos uvas, mas com maiores concentrações fenólicas. Estas são as substâncias que mais acentuam os aromas, os sabores, as texturas e as cores do vinho final.
Nestas Vinhas Velhas a maturação é mais consistente, já que as raízes mais profundas fazem com que a vinha não se prejudique com alterações climáticas mais extremas como a seca. São, por isso, consideradas por muitos como verdadeiras “jóias” das regiões vinícolas.
As Vinhas velhas na Quinta do Paral: sustentabilidade na tradição
As Vinhas Velhas oferecem castas capazes de produzir vinhos intensos, elegantes e complexos pelo que são um património a conservar. É precisamente a sua preservação que faz parte do legado que o projeto da Quinta do Paral pretende celebrar no coração do Alentejo.
Localizada na falha geográfica da Vidigueira, que divide o Baixo e o Alto Alentejo, a Quinta do Paral surge como um vínculo que faz a transição entre as frescas serras a norte, as águas calmas do Guadiana a leste e as vastas planícies a sul.
Nesta região, onde as escavações da Villa Romana de S. Cucufate revelaram provas da vocação vinícola intemporal da Vidigueira, a Quinta do Paral, adquirida em 2017 pelo empresário alemão Dieter Morszeck, dá corpo a um projeto de enoturismo que tem por objetivo partilhar as histórias e as memórias do vinho, que desde da época do império romano terá sido produzido nos montes e cabeços que pontuam a paisagem da Vidigueira, ainda que numa produção diversas vezes interrompida aos longo dos séculos da história política nacional.
A Quinta engloba mais de 50 hectares de extensão, dos quais 13 são constituídos por pés de vinha com mais de cinquenta anos, onde se destacam as castas Perrum, Tinta Grossa, Antão Vaz e Aragonês. Mais ainda, também se cultivam vinhas mais novas das castas internacionais como Chardonnay, Sauvignon Blanc, Petit Syrah, Vermentino ou Viognier.
Os encantos do terroir e do modo de vida alentejano motivaram este projeto familiar, que inclui a produção de azeite virgem extra também a partir de oliveiras centenárias, respeitando as melhores práticas agrícolas para a sustentabilidade e para a tradição alentejana.